Acredito que vocês estejam vendo uma explosão do tema diversidade e inclusão tanto aqui no Linkedin como nos noticiários em geral. A questão humana ganhou força especialmente durante a pandemia, onde vimos vários debates dando ênfase a este tema. As empresas estão sendo cobradas pela diversidade e inclusão. As que não se atentam para isso, certamente serão ou estão sendo alvo de muitas críticas.
Embora essa questão humana seja essencial e as empresas estejam correndo atrás de mais diversidade, muitas não estão preparadas para trabalhar com um time diverso. Além disso, tradicionalmente a diversidade era encarada como características de raça, gênero e pessoas com deficiência. No entanto, a diversidade agora tem um escopo bem mais amplo e abrange idade, orientação sexual, nacionalidade, e várias outras diferenças que nos trazem uma gama maior de pensamentos e bagagens. As lideranças terão que considerar todos esses aspectos, não somente com o seu time, mas com todas as partes interessadas.
Estamos vivenciando uma mudança global que clama por mudanças e novas abordagens na liderança.
Isso inclui a compreensão de quem são os nossos clientes, quem são os nossos colaboradores e de qualquer pessoa que precisamos engajar no nosso negócio. Já é comum encontrarmos clientes que escolhem a sua marca preferida em função da responsabilidade social e ambiental que essa empresa tem.
Por outro lado, as pessoas a serem contratadas já esperam da empresa não somente um bom salário, mas também um ambiente bom para se trabalhar, com saúde psicológica, com oportunidades iguais, com líderes que saibam enxergar os seus valores, que respeitem a sua história, suas experiências vividas, sua identidade e suas habilidades.
As pessoas buscam por um lugar onde elas possam se sentir acolhidas e com um alto grau de pertencimento, ou seja, onde elas possam ser quem elas são e que suas ideias e perspectivas sobre um determinado assunto possam ser analisadas e consideradas.
Essas são características da liderança que, muito embora pareçam óbvias, não são tão fáceis de serem genuinamente executadas e alcançadas. Especialistas da área afirmam que atender essa expectativa exige uma nova habilidade que será vital para as empresas: a liderança inclusiva.
Assim, a capacidade de valorizar e respeitar todas as pessoas para que alcancem suas metas e as da empresa, pode ser traduzida em uma liderança que entende a inclusão e seus desafios com a comunicação, colaboração, inteligência cultural, viés inconsciente e outros assuntos que tornem o ambiente equânime, ou seja, que garanta um equilíbrio ao acesso das oportunidades.
O assunto é bastante amplo, mas para começar, o que é inclusão?
Ao longo desses dois últimos anos de pandemia, vimos um bombardeio de informações mostrando que inclusão não é o mesmo que diversidade e que podemos ter uma empresa com diversidade e sem inclusão. E o que acontece caso isso ocorra? Em pouco tempo as pessoas que foram contratadas serão demitidas ou pedirão demissão.
Inclusão é o processo que trabalha o ambiente para que todos se sintam valorizados e respeitados.
Precisamos entender que isso passa pelas relações de poder e, para além disso, que existem grupos dominantes. Os homens, por exemplo, formam um grupo dominante e todos os outros gêneros são, então, não dominantes. Ao incluir outros marcadores vamos visualizando melhor as diferenças. Os homens brancos formam um grupo com maior poder. Pessoas que não se encaixam nessas características podem sofrer discriminação e ter menos acesso às oportunidades.
Isso não significa que a liderança inclusiva irá focar somente nas pessoas historicamente discriminadas, mas sim, que haverá um equilíbrio de atenção e ações a serem tomadas. A liderança inclusiva deverá garantir o sentimento de pertencimento de todas as pessoas, o sentimento de que elas se sentem incluídas no grupo.
Recomendo o vídeo: Accenture Inclusion & The Power of Diversity | Accenture
Nele é possível perceber o grau da complexidade da inclusão. Essa imagem traz um recorte do vídeo, onde mostra uma mulher frustrada por não ter voz nas reuniões.
Assim, diversidade é colocar todos juntos e misturados. Inclusão é fazer isso funcionar.
Para tanto, as lideranças devem minimamente:
- Garantir o sentimento de pertencimento. Isso significa que a pessoa deve se sentir aceita exatamente como ela é. Mais uma vez, parece óbvio, mas já ouviram falar de mulheres que agem como homens nas empresas para serem ouvidas? Este é o meu universo e é muito mais normal do que vocês imaginam. Já passei por isso e conheço muitas e muitas mulheres que vivem isso no seu dia a dia. Quando as pessoas sentem que devem agir diferente no trabalho, elas não estão incluídas e nem, tampouco, têm o sentimento de pertencimento. Em resumo, quando pessoas de grupos não dominantes precisam se comportar como pessoas de grupos dominantes, achando que com isso elas terão mais respeito e conseguirão minimizar os preconceitos, elas não estão sendo elas mesmas e o sentimento não é o de pertencimento, mas sim de tensão e medo.
- Valorizar as pessoas pelas suas singularidades. Aqui é importante lembrar que as pessoas são uma coleção de experiências, cultura, conhecimento, e todas essas características as tornam únicas. O que vejo acontecendo em empresas com diversidade é que líderes enxergam apenas uma ou duas partes da identidade de uma determinada pessoa e isso costuma gerar frustrações, especialmente quando são pessoas de grupos não dominantes. Como exemplo, tenho visto com frequência as empresas requisitarem pessoas negras para que elas falem sobre diversidade na empresa. Não há nada de errado nisso, a menos que esta seja a única requisição feita para estas pessoas. Casos como esse citado acabam sendo uma forma de exclusão, pois não se enxerga outros valores na pessoa a não ser falar sobre diversidade. Esquecer que os colaboradores de grupos não dominantes têm expertises profissionais é uma forma de exclusão. A inclusão se dá quando as pessoas são chamadas para contribuírem nas tomadas de decisão da empresa.
- Garantir o respeito a todas as pessoas. Com uma pesquisa rápida no Google, encontramos que respeito é um sentimento que nos impede de tratar mal outras pessoas, com ofensas, insultos ou falta de apreço. Respeito é um sentimento que nos impede de fazer ou dizer coisas desagradáveis a alguém. Assim, no ambiente de trabalho, o respeito é algo que está no topo das necessidade dos colaboradores de toda a empresa. Mesmo considerando as diferentes culturas presentes em um time com diversidade, as pessoas podem se sentir desrespeitadas quando suas falas são interrompidas ou quando questionam sua autoridade, ou quando descartam suas ideias e preocupações, quando as ignoram ou dão créditos para outras pessoas por algo que fizeram ou disseram. Fazer piadas também pode ser desrespeitoso. Tudo isso acontece e é rotineiramente expressado por pessoas de grupos não dominantes. Por isso, garantir o respeito é um ato de justiça e também para evitar desvalorizações e discriminações devido a singularidade de cada pessoa. As lideranças que desejam efetivamente respeitar todas as pessoas no local de trabalho, devem entender os significados de respeito para cada um dos grupos e o significado de equidade, que busca corrigir as diferenças entre as pessoas, principalmente ao acesso às oportunidades. Isso significa respeitar com base em cada necessidade.
Finalizando, para exercer uma liderança inclusiva, é necessário garantir tudo isso para si também. Como vou querer que as pessoas sejam autênticas se eu, enquanto líder, não sou?
Recomendo assistirem: Why you should bring your whole self to work | The Way We Work, a TED series
No vídeo Dan Clay fala sobre “a importância de trazer você por inteiro para o trabalho” e fala também que não existe uma única maneira de liderar e, portanto, você não precisa usar uma máscara da “liderança perfeita”. Isso é libertador.
Como conclusão, se liderar significa empoderar, motivar, inspirar, influenciar e conduzir a equipe para alcançar um objetivo e incluir significa trabalhar nos processos que garantam os sentimentos de pertencimento, valorização e respeito, então …
Liderança Inclusiva é a junção dos dois, ou seja, são processos que buscam empoderar, influenciar, motivar, valorizar, respeitar e criar um senso de pertencimento para alcançar um objetivo.
As habilidades para esta nova liderança incluem apoio, acolhimento, incentivo, equidade, mente aberta, curiosidade, confiança, flexibilidade, coragem, humildade, autenticidade, empatia, comprometimento, conscientização, inteligência cultural, adaptabilidade, imparcialidade, senso de justiça.
Como podem imaginar, esta lista é apenas um recorte. Pessoas que exercem a liderança inclusiva incorporam ou estão em busca de incorporar uma vasta variedade de qualidades. É difícil, mas esse parece ser um caminho sem volta.