Muitos me perguntam se a diversidade existe sem inclusão e vice-versa. Sim. É possível termos diversidade sem inclusão e é possível termos inclusão com pouca diversidade. Mas ambos funcionam muito melhor quando são trabalhados em conjunto.
Neste artigo eu gostaria de explicar com um pouco mais de detalhes a relação entre os dois.
A diversidade vem sendo trabalhada mundialmente há mais de 70 anos. Seu início foi nos Estados Unidos, com grupos que demandavam ações de reparação à discriminação, principalmente com relação à raça e ao gênero. Mais recentemente, com a evolução do tema diversidade, outros grupos foram sendo considerados, como pessoas com deficiência, religião, orientação sexual e idade.
O escopo da diversidade, no entanto, não para de crescer, pois o seu conceito é trazer para dentro das relações pessoais e organizacionais, pessoas com diferentes histórias e culturas. Isso inclui nacionalidade, nível de educação, classe social, composição familiar, dentre outras características que nos tornam seres únicos.
Há empresas e especialistas que se referem à diversidade como “diversidade de pensamento”. Eu concordo com essa expressão, pois a pessoa se torna única com base nas suas experiências, cultura, aprendizados e, devido a isso, formam diferentes opiniões e têm diferentes pontos de vista. O que é muito saudável para a inovação nas empresas.
Desta maneira, gosto muito de citar a Vernã Myers, VP de Estratégia de Inclusão na Netflix. Vernã diz para olharmos para o lado e fazer um esforço para perceber quem não está ali. Quem eu não enxergo? Eu enxergo pessoas negras? Enxergo mulheres? E pessoas trans? Enxergo pessoas com deficiência? Se não, como posso trazer essas pessoas para a minha empresa?
Essas pessoas que citei, fazem parte de grupos minorizados, também chamados de grupos sub-representados ou não dominantes. Essas expressões são usadas para mencionar grupos com pouca representatividade nas empresas e em outras esferas de poder. As “minorias” são pessoas que podem até compor a maior parte da população, como as mulheres por exemplo. No entanto, nas empresas, nas lideranças, na política, etc, elas estão em minoria.
Vernã diz ainda: “Diversidade é ser chamado para a festa e inclusão é ser chamado para dançar”. Eu gosto muito dessa analogia, pois a diversidade se refere às diferentes origens, às pessoas que são diferentes do padrão que estamos habituados a encontrar. Assim, quem eu chamo para a minha festa? Eu costumo convidar as pessoas que são parecidas comigo, que gostam das mesmas músicas, que se vestem como eu? Ou eu chamo também pessoas com diferentes olhares e que talvez não gostem da mesma música?
E, se a inclusão é ser chamado/a para dançar, estamos dispostos e preparados a ouvir críticas sobre a música que a gente costuma colocar ou sermos instigados a dançar de uma forma diferente? Ou não?
O foco na inclusão envolve preparar o ambiente para a diversidade, ou seja, permitir que as pessoas e suas diferentes formas de pensar possam encontrar um ambiente saudável e propício para o seu desenvolvimento.
É importante compreender que as pessoas de grupos minorizados costumam encontrar ambientes hostis ao longo da sua vida. Eu, enquanto mulher, profissional da engenharia elétrica, por diversas vezes não fui ouvida, ou ouvi palavras que me ofenderam, ou tive a ideia roubada. Com isso não me senti valorizada, nem respeitada, muitas vezes eu pensava que ali não era o meu lugar e, o que me dói mais, às vezes eu não me sentia pertencente à profissão que eu escolhi.
Portanto, incluir significa ouvir, entender as diferentes histórias e culturas, saber trabalhar a comunicação entre os diferentes grupos, para com isso garantir que as pessoas tenham um sentimento de pertencimento, ou seja, que elas possam ser quem elas são e ainda assim serem respeitadas. Valorizar as pessoas na sua empresa, tendo o conhecimento que entre elas existem diferenças que garantem privilégios para uns e para outros e, ainda assim, equilibrar essa balança, é sinônimo de inclusão.
Para além disso, citando aqui o Thiago Amparo, se essas pessoas tiverem oportunidades de escolher a música, aí teremos equidade e justiça, fazendo então a diversidade ter real valor na sua organização.